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O Espectro na Escola
O Espectro na Escola

 

O Espectro na Escola


"A fúria impetuosa da rajada que entrava quase nos elevou do solo. Era, na verdade, uma noite tempestuosa, embora asperamente bela, uma noite estranhamente singular, no seu terror e na sua beleza." Edgar Allan Poe

Segundo o que são ensinados nas aulas de física e química, tudo que vemos ou sentimos é formado por matéria. Temos recordações agradáveis quando inspiramos o aroma de areia molhada pela chuva de uma grande tempestade misturada com o odor de maresia do litoral. Este cheiro chega ao nariz empurrado pelos vendavais quentes que vem do noroeste e seguem em direção ao oceano, onde alcançam o equilíbrio. A sensação dum tenebroso temporal na praia é percebida pelo fado do oxigênio, dióxido de carbono e outros gases empurrarem estas moléculas aromáticas contra nosso corpo através do ar em movimento. Entretanto, tal odor agradável e ao mesmo tempo assustador não pode ser registrado por nenhum aparelho eletrônico. Esta é uma sensação que só permaneça registrados nas nossas mentes humanas.

E quando a matéria deixa de existir ficando apenas uma energia, como um potente relâmpago, será que pode ser fotografado? Isto é visto como uma inversão incomoda, uma vez que não se pode registrar visualmente certas matérias mas uma grande energia acumulada vira uma linda imagem nas páginas dos livros de ciência.

E o acumulo de energia de um espírito materializado também pode ser fotografado? Pois foi isto que ocorreu num sábado de outono dentro de uma escola perto da praia.

Era um grupo de cinco jovens, que também estudavam física e química, integrantes da fanfarra que preparavam-se para a manutenção dos instrumentos do colégio e planejar a convocação de todos os alunos para integrarem a banda que deveria estar afinada até 7 de Setembro. Eles aguardavam a caseira abrir o portão e discutiam uma escala de horários para a divulgação, nas salas de aula, que fariam na próxima segunda feira.

Antônio, sujeito brincalhão, como todo gordo era muito simpático; ele já tinha concluído o ensino médio, por isto era o mais experiente e líder das liras. Ali também estavam às irmãs Paula e Vanessa, a primeira coreografa porta-estandarte e a outra, que cursava o primeiro ano, namorava Diego. O baterista Diego tocava no grupo de louvor de sua igreja, logo não poderia ensaiar aos domingos e aproveitava aquele dia de sábado para namorar mais do que treinar. Já o último do grupo, Sérgio, é o mais estudioso e também o que sofria com as brincadeiras do guloso Antônio.

Seguiram então os cincos, acompanhados com a caseira, pelo enorme corredor onde dava acesso as salas de aulas. O som seus diálogos se propagavam pela excelente acústica da escola vazia e iluminado apenas por parte dos raios solares que atravessavam os vidros encardidos das janelas das classes. Na metade do caminho havia uma saída que dava para um modesto pátio sujo por folhas secas que desprendiam de uma enorme árvore no centro; após atravessarem o jardim e a quadra ambos entraram em outro anexo. Na segunda construção encontrava-se – na parte térrea – banheiro dos alunos, depósito de limpeza, uma escadaria protegida por grades, refeitório e a cozinha. O cadeado que dava para os lances de escada foi destrancado pela moradora, que partiu em seguida para o outro lado do terreno, onde ficava sua casa. Além da biblioteca, no segundo piso também havia um pequeno escritório, mais parecido com um depósito empoeirado, onde o Grêmio fazia suas reuniões e mantinha uma mesa de ping-pong montada, além dos instrumentos da fanfarra.

A formação daquele grupo era bem recente, porém eles tinham um entrosamento ainda imperceptível que se completavam, como várias engrenagens trabalhando de maneira sincronizada, onde agindo em conjunto faziam a maquina funcionar. Eles já se conheciam do 7 de Setembro do ano anterior onde mantiveram contato para uma mobilização que concretizara agora. Há uma outra definição para aqueles jovens, pois eles não eram peças de uma engrenagem, muito menos uma máquina ou algo mecânico. A complexidade dos sentimentos aflorados com características marcante daquelas pessoas mostrava que eles formavam um único corpo com várias cabeças. Antônio contribui para o corpo com seu espírito de mobilização e auxiliado por sua poderosa voz persuasiva; Diego era o mais esperançoso com uma bagagem religiosa, certamente iria manter a persistência nos ensaios; já a inteligência que se destacava entre os demais de Sérgio tinha a incumbência em registrar todos os treinamentos com fotografias para publicar num diário na internet; a atraente Paula é dedicada e muito disciplinada; por outro lado Vanessa era totalmente o oposto da irmã nos sentimentos e só estava ali para permanecer próxima do namorado, pois tinha grandes ciúmes dele. Pelo menos era esta a impressão inicial que um teria do outro.

Ao entrarem na sala Diego pegou uma das raquetes e a bolinha – deixando a silueta dos objetos retirados em destaque, pois estava mais limpo e esverdeado do que o resto da surdida mesa – desafiando Sérgio para uma partida. O jovem nerd aceitou aquilo como uma afronta, pelo fato daquele esporte ser o único em que praticava bem, dando um sorriso sarcástico ao pegar a outra raquete.

Enquanto os dois rapazes gladiavam-se, Antônio e as duas moças iam atrás de panos úmidos para retirar a sujeira dos instrumentos acumulada pelo tempo.

Quando todas as caixas e tambores estavam limpos, Antônio ficou revoltado pois os outros dois ainda estavam jogando na mesa, e num tom autoritário ordenou:

– Aêh!, vocês não vão nos ajudar? – jogando um dos panos imundos em Sérgio e completando – Limpa esta mesa para colocarmos as liras.

O outro sentiu o tecido bater em suas costas e ficar pendurado no seu ombro, manchando sua camiseta branca. Ao notar a avaria em sua camiseta, o garoto de imediato largou a raquete retirando a parte de cima de sua roupa para tentar limpa-la, reclamando:

– Olha o quê você fez com a minha camiseta seu ridículo! Isto não vai mais sair!

– Ridículo são vocês dois que estão brincando enquanto trabalhamos. – e olhando para a mochila do jovem nerd – Trouxe a máquina fotográfica para ficar de enfeite pois ainda não tirou nenhuma foto.

Sérgio então retira o aparelho da mochila enquanto exclamava:

– A primeira foto que vou fazer então é da minha camiseta manchada, por um babaca muito sem graça!

Vanessa então aproxima-se de Diego e num tom intimidador ameaçou Antônio:

– O fato deles não nos ajudarem não é motivo para você praticar tal ato. – e requebrando-se com uma das mãos na cintura completa – Talvez você seja um ridículo mesmo e se continuar assim vai trabalhar sozinho.

O clima naquela sala esfriou de tal forma que um silêncio propagou-se em todos, sem nenhuma palavra agora eles estavam trabalhando de forma incômoda, cada um no seu canto. Quando Antônio não suportando mais se retirou. Mas por pouco tempo, pois em menos de três minutos ele já estava de volta pedindo:

– Alguém aí tem papel higiênico? Nos banheiros estão sem...

Ambos riram com o pedido do gordo chato, porém necessário para o grupo.

– Vai no banheiro dos professores, lá é mais limpo e deve ter papel. Falou Paula sorridente.

Após Antônio sair, Vanessa com um riso malicioso e pega a máquina fotográfico de Sérgio pedindo para ele ligar:

– Sérgio como tira foto aqui! Já teremos a primeira foto de nossos afazeres e o comentário será: “Gordão trabalhando na louça do vaso sanitário”. E saiu atrás de Antônio no banheiro.

Os outros três permaneceram limpando as liras por um tempo, quando um grito de horror feminino ecoou por toda escola e ambos precipitarem-se para ver o quê estava acontecendo.

Encontraram Vanessa nervosamente agachada no canto da parede do corredor e Antônio tentando ergue-la enquanto ela gaguejava:

– Eu vi, eu vi! Es... estava lá! Eu vi!!!

Calma Vanessa, – tranqüilizava Diego enquanto aproximava-se da namorada e questionou – o quê você viu?

Uma... uma mulher de vestido preto. Era um fantasma, um FANTASMA, eu vi!!!

Sérgio então seguiu para o local onde a moça mostrava a procura de alguém, alegando:

– Vanessa, não ninguém aqui.

– Eu vi Sérgio! Eu tirei foto dele com sua máquina. Olha, olha, é verdade. Eu vi!

Os jovens levaram Vanessa para o escritório onde estavam os instrumentos e com semblantes perturbador viram a fotografia da aparição de vestido preto que a moça registrou. Agora todos estavam aterrorizados com aquela imagem que passava de mão em mão; decidiram então não ficar nem mais um segundo naquela escola. Chamaram à caseira explicando que iam comer alguma coisa e já retornavam. Mentira, pois todos seguiram em direção a praia.

Eles se entre olhavam, como cúmplices de algo misterioso e riam nervosamente:

– Deixa eu ver a foto de novo? – Pediu Diego para Sérgio.

– A máquina fotográfica está com a Vanessa.

– Comigo não, cadê a máquina gordão?

– Não está comigo, tá com você Paula?

– Não! Sérgio você não deixou na escola?

– Nossa, ficou sobre a mesa de ping pong. Vamos buscar? – disse Sérgio colocando a mão na cabeça.

Ninguém se voluntariou em acompanhar Sérgio, e ainda o desafiaram a buscá-la, pois ele era o mais cético de todos.

– Sérgio, você tem que ir lá buscar o seu aparelho pois temos que colocar na internet. Vai lá buscar sua máquina com a caseira – pediu Vanessa abraçada ao namorado Diego.

Sérgio deu dez passos em direção a escola, porém recuou onde disse temorosamente:

– Não quero ir sozinho, tenho medo desse tipo de coisas.

Os cinco permaneceram mais um tempo caminhando pela calçada da orla; partindo então pela avenida, seguindo cada um para sua casa. Ficou a promessa de na próxima segunda-feira pegar a câmera digital, quando a escola estaria cheia de alunos.

Sérgio chegou na sua casa e, em pouco tempo, já estava na cama deitado. Não consegui dormir apenas pensando na imagem daquela mulher registrada em sua máquina fotográfica, infelizmente seu equipamento não estava ali para ser analisado no computador. Foi quando teve a idéia de buscar pela internet por imagens semelhantes ou até iguais, desta forma desvendaria aquele mistério ou talvez desmascararia Vanessa.

Ele sentou-se na frente do computador, digitando as palavras chaves para a pesquisa. Primeiro digitou “fantasma na escola”, não havia nenhuma fotografia idêntica sequer; “espíritos dentro da escola”; “Ghost in school”; pesquisou por vídeos e nada. Após vários minutos de uma busca fracassada e já desistindo dedilhou no teclado: “Espectro na Escola”, em seguida, Enter...

Lá estava a imagem idêntica, sem nenhuma modificação ampliada no monitor. Algo muito estranho era que na fotografia que ele observava ali também estava o corredor de sua escola, sem nenhuma montagem. O jovem inclinou-se para olhar cada detalhe, sem sinais de manipulação. Cenário, objetos, luzes, sobras, observava o contorno da roupa negra e por último olhou o rosto. Notou que havia um pouco de contraste que se assemelhava as afeições dos olhos e de um nariz; ele então colou o rosto na tela e repentinamente a cabeça daquele espectro mexeu.

Sérgio deu um pulo para traz... Ainda sentado na cadeira esfregou os olhos, percebendo que era apenas uma imaginação de suas retinas. Mas, quem colocara aquela foto de sua escola na internet? Ele olhou novamente para o monitor e agora estava só o corredor vazio na gravura, sem o espectro da mulher. Como!? O que estava acontecendo?

Neste momento, as paredes do seu quarto começaram a sacudir produzindo um barulho muito grave, semelhante aos trovões ou uma poderosa onda batendo num rochedo. E todas as estruturas de bloco e reboco das paredes se desfragmentaram em terra e Sérgio se viu, com todas as mobílias daquele cômodo, ao ar livre. Era algo impossível naquela noite mas Sérgio estava, junto com sua cama, guarda roupa, raque, tapete e cadeira na areia da praia. Ele olhou em sua volta notando que estava só, sob uma grossa camada de nuvens espessas no céu de uma eminente tempestade que deixava o ambiente ainda mais em trevas. Dava para ele ver os clarões dos relâmpagos e ouvir a confusão de sons das ondas misturada aos estrondos dos trovões.

O nerd olhou para um flash que refletiu na água e lá estava flutuando o espírito que desaparecera do computador, olhando para ele. Era realmente algo assustador aquela aparição que estendia uma das mãos para o garoto como se estivesse pedindo algo. Sérgio notou então que a máquina fotográfica estava agora em seu colo; rapidamente ele conectou o equipamento ao computador para tentar transferir a imagem do espectro novamente para a internet. Ao olhar o espírito da mulher que flutuava sobre a margem das águas, viu que ela ainda estava com o braço estendido só que agora fazia um aceno negativo com a cabeça. Um gigantesco raio atravessou o monitor – fazendo saltar várias fagulhas em curto – atingindo seu peito, queimando todo seu corpo que tremia numa convulsão enrijecida.

Ele permaneceu estático sobre a cama com os olhos voltados para o teto, não estava paralisado pois ele poderia se mexer a hora que bem entendesse, mas não queria porque estava com medo. Seu peito doía só pelo fato do seu coração estar batendo; como se não houvesse espaço suficiente para os músculos cardíacos se movimentarem, machucando assim seu pulmão a cada palpitação, fazendo com que tudo fosse saltar do seu tórax. A visão do sonho circulava em seus olhos, semelhante a uma projeção nas paredes tomadas pela falta de luz. Sérgio buscava o controle de sua realidade, tentava acalmar-se respirando de maneira bem calma. As visões então dissiparam gradativamente como nuvens após o temporal, seus ouvidos se abriram e ele percebia estar saindo daquele pesadelo onde retornava ao quarto. Alguns sussurros femininos, bem lá longe, os guiaram no seu autocontrole; eram gemidos que ouviam num volume baixo e abafado que logo tornavam-se gradativamente nítidos até perceber que eram os delírios de prazer de sua madrasta fazendo sexo no outro quarto. Sérgio não levantou, muito menos ascendeu à luz para não incomodar sua família. Permaneceu deitado, acordado até a mulher se calar e em seguida clarear o dia.

O domingo passou para o jovem nerd de maneira congelada. Sem ânimo algum deixou que nada acontecesse. Apenas esperou que aquele dia fosse embora o mais rápido possível. Aguardava as horas passarem, afundado no sofá, olhando sua irmã mais nova apertar os botões do controle remoto para trocar os canais de desenho. Ele estava apático, com poucos pensamentos para processar; tinha esquecido de escovar os dentes, comeu mal, falou pouco à mesa, não foi tomar banho, apenas permaneceu estático olhando para a irmãzinha trocar os canais.

Sua madrasta já estava servindo o jantar quando reparou que havia algo de errado com o rapaz:

– Porque você passou o dia tão murchinho, Sérgio? – a mulher questionou, tocando com as mãos na testa e no pescoço do jovem para examiná-lo, concluindo em seguida – Está se sentido mal?

– Nada não mamãe. – era assim que a chamava, uma vez que ele convivera com ela desde bebê – Apenas estou meio pra baixo com um acontecimento inesperado, Tive até um pesadelo nesta manhã.

– Estão mexendo com você novamente na escola? – Perguntou a mãe, recordando alguns anos antes, quando os garotos da oitava série o humilhavam pelo fato dele ser o “Queridinho da Professora”. Continuando – Eu posso ir lá e conversar com a diretora.

– Eu não gostaria de falar sobre isto por enquanto. Só não é nada de grave.

– Sérgio, eu fico preocupada com você assim. Principalmente quando faz mistérios, além de tudo seu pai...

O garoto interrompeu o principio de discurso da mulher, porque aquele não era o momento para ele ouvir uma palestra e tentou encerrar o assunto falando de forma impaciente:

– Não é nada de grave mãe e ninguém está me provocando. O que sinto são coisas estranha que ainda não posso entender, a senhora já deve ter passado por isto quando era mais jovem.

– Deve ser porque você está perdendo “o controle”. – iniciando, mesmo assim a palestra – A gente sempre planeja tudo com antecipação para nossas vidas fluir de maneira harmoniosa, porém isto nos trás uma rotina que desanima. Às vezes, tirar proveito das situações inesperadas nos faz evoluir e torna nossas vidas mais relevantes; trazendo sensações imprevistas que podem ser felizes ou triste porém emocionantes.

– Entendo... Sérgio disse as últimas palavras daquele chato domingo, indo para seu quarto.

Ele teve o mesmo pesadelo da noite anterior, a praia deserta e escura encoberta pela temporal, os raios, trovões, ondas, sua máquina fotográfica e a aparição de vestido preto. O fantasma também estava flutuando a beira do mar, com uma das mãos estendidas pedindo algo. Sérgio, sentado com os pés na areia e com a câmera digital no colo, desta vez tentou mudar o desfecho do sonho, pegando o equipamento e mostrando para a assombração. O jovem notou que agora ela acenava positivamente com a cabeça. Então ele se colocou de pé e com toda força de seu braço lançou a máquina fotográfica ao encontro do fantasma. Foi na metade da trajetória do aparelho arremessado que o mesmo relâmpago de ontem cortou o céu, destruindo a máquina que continha o registro da imagem daquela aparição. A energia que se desprendeu com o impacto fora tão forte e intenso que um clarão ofuscou sua visão; seguida dum grave estrondo. Quando Sérgio conseguiu abrir os olhos, já era manhã e estava na hora de levantar e arrumar-se para a escola.

Ele chegou à cozinha, já com o uniforme e de mochila nas costas, o café estava pronto na garrafa térmica junto com o pão de forma e queijo – sua madrasta o fizera mais cedo para seu pai, que já tinha saído para o trabalho. O jovem então comeu rapidamente, enquanto apenas ouvia a televisão que sua madrasta na sala ligara. O telejornal da manhã mostra os acontecimentos do final da semana com assaltos, trânsito, espetáculos teatrais e agora mostrava que o dia permaneceria encoberto com algumas pancadas de chuva durante o dia.

Sérgio saiu para a escola, com um plano traçado assim que recuperasse sua câmera digital. Passou pela sala, despedindo-se da mulher acomodada no sofá que o alertou:

– Tchau! Pegou o guarda-chuva? Olha que vai chover!

Assim que entrou no colégio, agora ocupado por muitos adolescentes, já estava perto de tocar o sinal. Ele seguiu em direção a sala do Grêmio, onde esqueceu o aparelho, e quando passou pelo pátio cruzou com o casal Vanessa e Diego. Eles estavam com muita pressa e nem lhe cumprimentaram. O nerd chegou às escadarias e notou que a caseira agora fechava as grades que davam para as escadas. Sérgio pediu para ela esperar mais um pouco, pois tinha que pegar um aparelho que esquecera no último sábado. A mulher então respondeu:

– É a máquina fotográfica? Se for o casal acabou de pega-la; a moça falou que era dela.

Sérgio correu pelo pátio, esquivando-se dos outros alunos que estavam em seu caminho para tentar alcançar os dois. Correu pelo corredor ouvindo os gritos de advertência da inspetora e, ao chegar no portão de saída, se chocou com Paula.

– Viu para onde foi sua irmã? Ela está com minha máquina com a fotografia.

– Ela acabou de passar por mim. Estava com Diego e seguiram em direção a praia.

Foi neste instante que chega Antônio para divulgar os ensaios da fanfarra, como combinado:

– Por favor Paula, nós precisamos apagar aquela fotografia! Disse Sérgio nervosamente.

– Mas o quê está ocorrendo com você...

Sérgio puxou os dois pelo braço, dizendo:

– Venham comigo que lhe explico!

Chegaram na praia ambos sem fôlego pela corrida, Antônio ficara um pouco para trás. Pararam um para respirar avistando o casal sentado num banco mexendo na câmera distraidamente. Sérgio seguiu em direção dos outros dois, porém quando Vanessa percebeu que o nerd se aproximava pegou tudo que era seu do banco e fugiu pela areia.

Apesar de ser aquela as primeiras horas da manhã, havia um denso teto de nuvens escuras no céu que deixava aquele dia mais escuro, anunciando a chuva que chegaria em instantes. O vento soprava em direção do mar e Vanessa corria com dificuldades pela areia fofa que se levantava a cada pisada. Sérgio tentou alcançá-la caminhando atrás dela. Ele observou que a moça ganhava distância, mas não se desesperou, pois o vento a empurrava para a água e em pouco tempo ela teria que parar. Antes mesmo do esperado, Vanessa tropeçou na areia e caiu de cara no chão, sujando-se toda. Neste mesmo instante o primeiro trovão estrondoso anunciou a tormenta.

– Se afasta de mim! – gritou Vanessa cuspindo areia que continuou – Eu só quero pegar a foto que tirei, é meu direito, fui eu que fotografei!

– Vanessa, estamos lidando com forças ocultas, – disse Sérgio de maneira calma enquanto aproximava da garota que arrancava suas sandálias e tentava levantar-se, mas ela era atrapalhada pela areia acolchoada e pelo vento forte. Antônio, Diego e Paula também chegavam atrás do jovem nerd e outro trovão soou mais perto deles. A atmosfera estava assustadoramente pesada dando uma sensação de agonia para Sérgio que continuou sua frase – me ouça, temos que apagar esta fotografia.

Vanessa apoiou uma das mãos no chão e com a outra, segurando a câmera eletrônica, tentava se equilibra. Ela levantou ainda cambaleando, ergueu os braços, tentando colocar seu corpo de forma ereta quando gritou:

– Esta foto é minha, eu fotografei! Todos têm que saber... Tenho que publicar na internet. . . – Vanessa não consegui terminar pois com os braços erguidos se transformou num para-raio, quando um relâmpago entrou por sua mão fechada e explodiu em seu corpo.

Duas semanas se passaram; lá estavam na escola a mãe e irmã da morta. Toda rotina de ambas haviam se transformado após a tragédia com Vanessa. A médica legista confortou as duas ao dizer que a morte da menina foi instantânea, porém, no enterro, a defunta apresentava uma aparência macabra com uma expressão de horror no rosto, dentes trincados e a mão com pedaços derretidos da máquina presa no tecido da pele carbonizada. Elas tentavam agora retornar a normalidade. Como aquele dia que estava limpo e claro; com o Sol irradiante e uma suave brisa que movimentava as folhas dos coqueiros. Na praia agora havia alguns turistas contemplado a paisagem, banhavam-se nas águas mornas do mar, esportista corriam pela orla desviando-se dos casais de namorados que tomavam sorvete nos quiosques.

Paula chegou na escola com a mãe para pedir transferência, pois não tinha mais condições de concentrar-se nos estudos sem a presença da irmã que sempre estivera lá. Talvez em uma escola nova ela pudesse concluir seus estudos. Ambas aguardavam o atendimento do lado de fora da secretaria, no largo corredor, quando Paula arregalou os olhos para o teto e apontando na direção gritou:

– Mãe ali, está gravado!!! – ela estava apontado para uma das câmeras de monitoramento enquanto repetia – Está gravado mãe, a senhora vai ver que não estou mentindo! Temos que ver as gravações, tá gravado!!!

A moça tremia e desesperadamente apontava para a câmera pendurada no teto, as lágrimas já brotava dos olhos de Paula e as portas das salas de aula eram abertas onde pessoas começaram a sair para verem de onde estavam vindos aqueles gritos ecoantes.

A mãe de Paula tentava acalmá-la dizendo:

– Calma filha, eu acredito em você. Nós vamos ver as gravações.

– e voltando para uma das atendentes da secretaria continuou

– Cadê a diretora? Ela tem que nos mostrar as gravações.

Fora no monitor de vídeo na sala da diretora que ambas viram perplexas as imagens daquele fatídico sábado.

– Minha Nossa Senhora! – exclamou a diretora com a mão segurando o queixo caído, enquanto recuava para tentar afastar-se da imagem.

O vídeo mostrava uma mulher de vestido preto flutuando no corredor, quando no canto inferior aparecia Vanessa apontando a máquina fotográfica para o fantasma que balançava negativamente a cabeça; em seguida um clarão ocupa toda a tela que fica esbranquiçada, retornando a normalidade gradativamente. Vanessa agora estava agachada num canto da parede enquanto o corpo gordo de Antônio aproximava-se para acudi-la.

– Quero uma cópia deste vídeo – falou a mãe para a diretora de forma assustadora enquanto abraçava a filha sobrevivente.

Mãe e filha se entreolham. Lá fora, aquele lindo céu fora manchado por uma pequena nuvem negra.




Autor: FRANCISCO C. O. FARIAS JÚNIOR[

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